A trajetória dos negros no Brasil e os preconceitos sofridos criam o pano de fundo para a Oficina Livre Teatrando que o artista baiano Leno Sacramento, integrante do Bando do Teatro Olodum, levou, na manhã desta terça-feira (14), aos estudantes do Colégio Estadual Polivalente de Amaralina, localizado no Nordeste de Amaralina, em Salvador. A iniciativa integra as atividades voltadas ao Novembro Negro nas escolas estaduais e tem como objetivo fortalecer a educação antirracista.
Segundo o ator, a linguagem teatral é uma forma de fortalecer a luta antirracista e a cultura de paz. “O objetivo deste projeto é plantar sementes. Hoje, ao chegar aqui, recebi um abraço de uma estudante que faz poesias e começou a potencializar sua escrita após uma oficina que realizei aqui, no ano passado. Isso demonstra que só a arte tem esse alcance. Mostro a eles o que aprendi a partir do Bando de Teatro Olodum”, revela, referindo às possibilidades oferecidas pelo teatro, de expressar sentimentos de dor e alegria que, muitas vezes, não podem ser compartilhados em outros espaços.
A coordenadora pedagógica da unidade escolar, Luciana Pita, disse que o Nordeste de Amaralina é um território marcado por vulnerabilidades e acrescenta que a educação antirracista permeia o currículo escolar para potencializar o combate a toda forma de preconceito, por meio do diálogo, discussões e debates, que envolvem também as famílias.
“Estamos inseridos em uma comunidade que é marcada pela violência, mas nossa escola é extremamente pacífica. Não fechamos os olhos para essa realidade, lidamos com ela diariamente, a partir de ações que promovemos aqui como uma forma de acolhimento. Negar a realidade é negar quem nós somos, é negar que a escola é alimentada por esses meninos e meninas”, ressalta.
Acolhimento – O acolhimento que a estudante Larissa Santos Miranda, 17 anos, encontrou ao ingressar na unidade, em 2021, mudou sua história. Para ela, ao pautar o racismo e outras formas de preconceito, a escola promove a construção da cidadania.
“É importante a gente falar sobre este assunto. Aqui a gente se sente acolhido. A gente percebe que temas como estes sendo trazidos para o centro da discussão são muito importantes. Aqui, consegui reconhecer as minhas dores, denominá-las e saber como agir, o que fazer, porque o racismo tem várias vertentes e todas elas machucam. Aqui temos uma construção muito linda de que toda escola e sua gestão estão próximas aos alunos, dando suporte e apoio”, analisa a aluna.
O ator Leno Sacramento também acredita que é importante para os jovens terem como referência um ator negro que integra um grupo de teatro reconhecido, que já participou de dois filmes, a exemplo do Ó Paí, Ó e o Ó Paí, Ó 2, sequência do longa-metragem brasileiro de 2007. “O teatrando é uma forma de alívio. É importante que esses jovens saibam que eles podem vencer. Esse empoderamento é importante. A dramaturgia aqui funciona como ativismo, como uma forma de libertação também”.
Foto: Divulgação
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