É preciso ter esperança

As transformações culturais e educacionais ocorridas com as mudanças na estrutura macroeconômica mundial vêm exigindo dos governos a efetiva democratização do acesso ao saber para as camadas populares. Todavia, organismos internacionais, na era denominada “do conhecimento”, se reúnem para discutir o direito e a inclusão de milhares de sujeitos, jovens e adultos ao saber.

O Censo Demográfico de 2010 registrou em Salvador  31,1% da população sem o Ensino Fundamental completo. Em termos absolutos, cerca de 659 mil pessoas que não concluíram esta etapa da Educação Básica, dentro de uma população de 2,1 milhões de pessoas com 15 anos ou mais. O mesmo Censo 2010 registrou em Salvador uma população de aproximadamente 387.532 mil crianças de 06 a 14 anos, idade considerada regular para cursar Ensino Fundamental.

Se ajustarmos as lentes para observar melhor estes dados, vamos perceber que tínhamos mais jovens e adultos acima de 15 anos para concluir o Ensino Fundamental (659 mil) do que crianças em idade regular para cursá-lo (387.532). Vale destacar que o público de 06 a 14 anos é atendido pelas redes públicas municipal, estadual e pela rede privada, em detrimento do público de 15 anos ou mais sem ensino fundamental completo, que é predominantemente atendimento com ofertas da rede pública municipal e estadual.

São inúmeros os condicionantes da exclusão educacional que tentam explicar o inexplicável insucesso escolar, expresso no alto índice de jovens e adultos alijados do direito a educação. O que constatamos ao longo destes 10 anos é que apesar da grande demanda de pessoas acima de 15 anos, jovens, adultas e idosas que precisam concluir esta etapa básica, que é o Ensino Fundamental, as matrículas na modalidade Educação de Jovens e Adultos – EJA registrou uma queda em todo o Brasil.

Por conseguinte, é provável que Censo Demográfico 2020 não revele dados animadores. Todavia, isso não significa que perderemos a esperança. Seguiremos concordando com Paulo Freire que “é preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…”  Mais do que nunca, num período pós pandemia, onde as desigualdades educacionais serão ainda mais aprofundadas, os desafios de olharmos para este público é ainda sobremaneira maior, pois são sujeitos de direitos, que vivem, fazem e transformam esta cidade cotidianamente.

 

Verônica de Souza Santana
Pedagoga, Especialista e Mestre em Educação

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